A Síndrome de Fanconi é uma condição rara e complexa que afeta a função do túbulo proximal dos néfrons renais, resultando na perda anormal de substâncias essenciais pela urina. Esta matéria visa fornecer uma compreensão detalhada sobre a síndrome, abordando sua fisiopatologia, causas, manifestações clínicas, diagnóstico e opções de tratamento.
Fisiopatologia
Na Síndrome de Fanconi, há uma disfunção nos mecanismos de reabsorção do túbulo proximal renal. Normalmente, essa estrutura é responsável por reabsorver substâncias filtradas pelo glomérulo, como glicose, fosfato, bicarbonato, aminoácidos e íons diversos. Quando esse processo é comprometido, ocorre a perda urinária dessas substâncias, mesmo quando seus níveis séricos estão normais. Isso leva a um padrão característico de glicosúria sem hiperglicemia, aminoacidúria, fosfatúria e acidose metabólica hiperclorêmica com ânion gap normal.
Além disso, o comprometimento do metabolismo celular tubular, especialmente relacionado à produção e utilização de ATP, agrava a situação. As células do túbulo proximal têm alta demanda energética para manter os mecanismos de transporte ativo. Distúrbios mitocondriais ou intoxicações por metais pesados, como chumbo e cádmio, podem interferir nesse fornecimento energético, dificultando ainda mais a absorção dos solutos.
Causas
A Síndrome de Fanconi pode ser classificada em formas hereditárias e adquiridas:
- Hereditárias: Incluem condições genéticas como cistinose, doença de Wilson, síndrome de Lowe e doença de Dent.
- Adquiridas: Podem ser causadas por uso de medicamentos nefrotóxicos (antirretrovirais como tenofovir, quimioterápicos como ifosfamida, antibióticos aminoglicosídeos como gentamicina), exposição a metais pesados (chumbo, cádmio, mercúrio), doenças autoimunes (como síndrome de Sjögren), intoxicação por solventes ou colas industriais, entre outros fatores.
Manifestações Clínicas
Os sintomas da Síndrome de Fanconi variam conforme a idade e a causa subjacente:
- Geral: Fadiga, desidratação, sede intensa, fraqueza.
- Gastrointestinal: Náuseas, vômitos, dor abdominal.
- Renal: Poliúria, polidipsia, glicosúria sem hiperglicemia, aminoacidúria, proteinúria leve.
- Ósseo: Raquitismo em crianças, osteomalácia em adultos, dor óssea, fraturas espontâneas.
- Muscular/Neurológico: Fraqueza muscular, parestesias, tremores.
- Crescimento: Atraso no crescimento e desenvolvimento em crianças.
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado em exames laboratoriais que revelam:
- Glicosúria com glicemia normal.
- Aminoacidúria.
- Fosfatúria.
- Acidose metabólica hiperclorêmica com ânion gap normal.
- Hipocalemia e hipofosfatemia.
A presença simultânea de pelo menos três dessas alterações reforça o diagnóstico. Testes complementares, como coleta de urina de 24 horas para quantificar a perda de solutos e exames genéticos em casos hereditários, podem ser úteis.
Tratamento
O tratamento visa corrigir as perdas urinárias e, sempre que possível, remover a causa subjacente. Isso inclui:
- Reposição de bicarbonato, fosfato e potássio.
- Suporte nutricional individualizado.
- Em crianças, inclusão de vitamina D e monitoramento do crescimento.
- Retirada do agente agressor em casos secundários a fármacos ou toxinas.
O manejo deve ser ajustado conforme a gravidade dos distúrbios eletrolíticos e a função renal residual.
Prognóstico
O desfecho clínico depende da etiologia e da precocidade do diagnóstico. Nas formas adquiridas, a reversão completa pode ocorrer após a retirada da causa. Já nas variantes genéticas, o curso tende a ser progressivo, com risco de insuficiência renal crônica e necessidade de suporte contínuo. O acompanhamento multidisciplinar melhora a qualidade de vida e reduz as complicações a longo prazo.
Conclusão
A Síndrome de Fanconi é uma condição complexa que exige atenção cuidadosa ao diagnóstico e manejo. A compreensão de sua fisiopatologia, causas e manifestações clínicas é essencial para médicos e estudantes de medicina, visando um tratamento eficaz e melhoria na qualidade de vida dos pacientes afetados.